O que diferencia os humanos dos outros animais é a capacidade de angariar informações, raciocionar e mudar de opinião. É o exercício da inteligência, que tanto distingue a espécie humana. Bolsonaro parece não ter esse dom. Vários líderes mundiais começaram mal o combate à pandemia e, durante o avanço da doença, tiveram a capacidade de observar os fatos e alterar os rumos em seus respectivos países.
Quando a pandemia chegou ao Brasil, a Ásia e a Europa já enfrentavam momentos de muita dificuldade. Era óbvio que, em algumas semanas, o Brasil seria vítima do mesmo problema. O Brasil deveria ter, imediatamente, preparado-se para enfrentar a doença. O que se esperaria de um líder nacional era que advertisse a nação dos riscos que correríamos em breve. Que pedisse aos Poderes da República, aos governadores, prefeitos e ao povo união em torno de um projeto de prevenção e combate ao coronavírus que deveria ser colocado em prática por uma comissão especial formada por representantes da sociedade, médicos e cientistas. É algo que deveria estar acima das questões e dos interesses políticos das pessoas e dos partidos. A função de um estadista seria a de pregar a união nacional.
Ao invés de agir como um estadista, o presidente Bolsonaro pregou a cizânia, menosprezou a doença, e debochou da ciência. Um plano bem feito, com a presença de especialistas, poderia, inclusive, ter pensado as melhores e mais eficazes formas de encaminhar a equação lockdown vis-a-vis manutenção de empregos.
O fato é que, ao desunir a nação, Bolsonaro agravou algo que já seria difícil de combater. Ao invés de termos um projeto nacional de combate à pandemia, vimos cada cidade, cada Estado, agir de maneiras distintas, tomando como base não a ciência, mas interesses políticos. O Brasil passou a combater a pandemia de forma atabalhoada e desordenada.
Bolsonaro teve inúmeras chances de mudar de atitude. Mas nunca o fez. Parece um comportamento infantil, de quem não quer dar o braço a torcer. Bolsonaro pregou – e segue pregando – tudo o que os mais renomados cientistas e médicos de todo o mundo não recomendam. O resultado está aí, uma situação gravíssima, que a cada dia se deteriora, atingindo a saúde e a economia.
Não adianta Bolsonaro pôr a culpa nos governadores (os quais, inclusive, também podem ter suas parcelas de culpa). A questão não é política. É sanitária. Recuperar as vidas perdidas decorrentes da administração desastrada da pandemia é impossível. Mas ainda há tempo de fazer com que as coisas tomem outro rumo. Se Bolsonaro não muda, que nos perdoe o presidente, mas a nação tem que seguir o seu melhor caminho. Líderes, médicos e cientistas podem deixar de lado os devaneios de Bolsonaro, ignorá-lo para propor e implementar, rapidamente, um plano sanitário para debelar a pandemia que a cada dia assusta mais os brasileiros. Se Bolsonaro ficar calado, já estará prestando um grande serviço ao Brasil. E afirmo isso com enorme tranquilidade, porque não tenho alinhamento político algum com quem quer que seja. Estou tratando de saúde.